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Sol, mar, história e espinafre: Malta tem parque dedicado a Popeye

Felipe van Deursen

03/01/2021 04h00

35º57'N, 14º20'L
Popeye Village
Mellieħa, Região Norte, Malta

Se a Nova Zelândia tem O Senhor dos Anéis e a Croácia tem Game of Thrones, Malta tem… Popeye. O filme de 1980 não é dos mais queridos da baciada de longas exibidos anos a fio nas sessões da tarde, muito porque ele se baseava mais na tira original, de E.C. Segar, do que no desenho animado, que é bem mais conhecido do grande público. No IMDb, sua nota é um medíocre 5,3.

Mas, ei, calma lá. Esse foi o filme que apresentou Robin Williams ao mundo, e logo no papel principal. Então merece crédito.

Popeye não gerou uma saga multimilionária baseada em um mundo fantástico, mas, assim como o turismo na Nova Zelândia virou outro após os filmes de Peter Jackson e a Croácia, mais especificamente Dubrovnik, explorou à exaustão as locações da série da HBO (colaborando, inclusive, para o turismo excessivo e desgastante na cidade), a ilha mediterrânea também soube aproveitar Hollywood. Graças à turma do Popeye, Malta construiu uma peculiar atração.

A Vila do Popeye não é um parque temático inspirado no filme. É o próprio cenário do filme, transformado em parque.

Trabalhadores passaram sete meses erguendo a cidadezinha cenográfica

Em 1979, trabalhadores passaram sete meses erguendo a cidadezinha cenográfica de Popeye em Anchor Bay, uma baía de águas ora verdes, ora azuis, cercada por colinas rochosas, situada três quilômetros a oeste da bela Mellieħa. Às margens desse mar popular entre mergulhadores, eles montaram casas com madeira dos Países Baixos e do Canadá.

Sim, madeira importada. Malta é muito seca no verão, tem alta densidade populacional, o solo é rochoso. Por isso, o arquipélago é considerado um país sem florestas. O que tinha de bosque foi posto abaixo ao longo de milênios de ocupação humana.

Vila está lá desde 1980

Segundo a lista de fatos curiosos do parque, os 165 trabalhadores usaram oito toneladas de pregos e 7,5 mil litros de tinta na construção de 20 estruturas de madeira. O set de filmagens também ganhou uma estrada e um quebramar.

As filmagens começaram em janeiro de 1980, e o longa estreou no Natal daquele ano. Os bizarros braços emborrachados do protagonista não cativaram o público, mas o filme teve relativo sucesso e abriu as portas para Robin Williams se tornar um dos atores mais queridos do cinema.

via GIPHY

Enquanto outros países deixaram estruturas usadas em filmes (ou em Olimpíadas…) virarem sucata, Malta logo transformou o set em um parque temático. Há shows e performances para os fãs tirarem foto com Popeye, Olívia Palito, Brutus ou Dudu, um museu dedicado ao personagem, cinema, minigolfe, passeios de barco e piscinas.

Adultos pagam € 15 pelo ingresso. O parque também oferece estrutura para eventos corporativos e casamentos.

TRADIÇÃO CINEMATOGRÁFICA

Um cenário de filme (literalmente) transformado em parque temático é algo fora da curva, mas Popeye ter sido gravado em Malta, não. Desde a década de 1950 o arquipélago é popular como locação cinematográfica. Somente nos anos 2000, Malta serviu para ambientar Gladiador, O Conde de Montecristo, Alexandre, Troia, Munique e O Código Da Vinci, entre muitos outros. Isso sem contar a própria Game of Thrones, que também foi gravada lá, na década seguinte.

No ano em que Popeye foi produzido, outra estrutura maltesa ganhou evidência ao ser reconhecida pela Unesco como patrimônio da humanidade. Os templos de Ġgantija são só um pouquinho mais velhos: têm 5,6 mil anos e já foram considerados a construção mais antiga da humanidade (hoje o título pertence a Göbekli Tepe, na Turquia).

Esses templos serviam para rituais de fertilidade. Segundo a antiga crença local, uma giganta que só comia favas e mel deu à luz um filho humano. Ela pendurou o menino no ombro e construiu os templos.

Ruínas da antiga civilização de Ġgantija

A antiga civilização de Ġgantija desapareceu e ainda há muitos mistérios que a rondam. Restam as ruínas, grande ponto turístico e que hoje têm a companhia do inusitado "templo" dedicado não a uma divindade que só comia mel, mas a um marinheiro que só come espinafre.

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Sobre o autor

Felipe van Deursen é jornalista de história. Autor do livro 3 Mil Anos de Guerra (Ed. Abril), foi editor da Superinteressante e da Mundo Estranho e colunista da Cosmopolitan. Gosta de batata, de estudar e de viajar.

Sobre o blog

Os lugares mais curiosos e surpreendentes do mundo e a história (nem sempre tão bela nem tão ensolarada) que cada um deles guarda. Um blog para quem gosta de saber onde está pisando.