Ametista do Sul, a cidade (e parque temático) dedicada às pedras preciosas
27º21'S, 53º10'O
Pirâmide Esotérica
Praça Central, Ametista do Sul, Rio Grande do Sul
Deuses gregos também tinham seus porres, ô se tinham. Para se proteger da loucura, manter a sanidade e evitar um comportamento de torcedor inglês em dias de futebol, Dionísio, o maior especialista no assunto, usava uma ametista. Presente da titânide Reia.
Devido à coloração da pedra, os gregos – e, depois, os romanos, na mais notória "apropriação cultural" do Ocidente – acreditavam que a ametista era um escudo antiembriaguez. Por isso, acredita-se que o nome "ametista" venha do grego antigo para "não intoxicado".
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Aquele arroxeado era poderoso – e valioso. Na Antiguidade, os mais ricos usavam joias e copos feitos de ametista. Ela esteve em coroas de reis e em anéis de bispos. Durante muitos séculos, a ametista integrava o clube das cinco pedras preciosas, aquelas mais caras e valorizadas: diamante, esmeralda, rubi, safira e ametista. Cinco cores diferentes, cada uma com seus poderes e mitos, um Super Sentai mineralógico, Power Rangers das gemas.
Até que, no século 19, gigantescos depósitos de ametista foram descobertos no Brasil. O valor despencou e a ametista virou a pedra que conhecemos e usamos em pingentes que custam tanto quanto uma pizza.
Os três tipos básicos de rochas existentes na crosta terrestre podem servir para o surgimento de ametistas: ígneas, metamórficas e, em certos casos, sedimentares. Em veios de água na superfície ou em veios hidrotermais. Ou seja, ela não é uma pedra rara, é uma variedade violeta do quartzo.
Uma solução aquosa com átomos de silício evapora e surge o quartzo. Se houver férrico (ferro com número de oxidação +3) e radiação gama, surge a ametista.
Sim, os mesmos raios gama do Hulk, como lembrou o blog "Rosetta Stones", da Scientific American. Então, pergunta o curioso, a real fonte do poder do herói estaria em seu short roxo?
"AMETISTÁPOLIS"
Hoje, há minas que exploram a pedra em todos os continentes, mas o Brasil segue com as maiores reservas. O Rio Grande do Sul é o maior produtor mundial, e uma pequena cidade no noroeste do estado é a porta-bandeira dessa indústria.
Caçadores e agricultores descobriram as primeiras ametistas por acaso, na década de 1930, na região do médio e alto rio Uruguai. Era a primeira geração desses novos colonizadores, que chegavam a uma terra habitada originalmente pelos kaingang. Muitos eram mineradores e comerciantes alemães, que iniciaram a exploração comercial da ametista.
Batizada de São Gabriel, a localidade ganhou escola, igreja e poços para a mineração. No fim dos anos 1960, chegaram os tratores e retroescavadeiras. Em 1972, no auge da "corrida roxa", havia mais de cem tratores na região. Depois, túneis substituíram os poços, acabando com o garimpo ao ar livre.
Vinte anos mais tarde, durante outra febre, a da proliferação de novos municípios após a Constituição de 1988 (25% das cidades brasileiras surgiram entre 1988 e 2000), São Gabriel se emancipou de Planalto e ganhou o nome Ametista do Sul.
Hoje, a cidade de 7 mil habitantes é praticamente um parque temático. Na praça da matriz, uma pirâmide com revestimento de ametista energiza os esotéricos que visitam a cidade. Ali do lado, marcando presença também na fé institucionalizada, a ametista cobre paredes inteiras da igreja matriz.
A maior atração é o Ametista Parque. No complexo, é possível visitar uma mina desativada dentro de uma gaiola customizada na caçamba de um veículo 4×4 e visitar o acervo, que tem um meteorito de 140 kg e uma ametista de 2,5 toneladas. Ainda há um grande restaurante e até um bar dentro da mina. A Mina Beer se autointitula a "primeira microcervejaria subterrânea do mundo".
A ametista está no brasão, na bandeira, no nome, na base da economia, em quase todas as atrações turísticas e até na pia batismal da igreja matriz de Ametista do Sul, que, não satisfeita, se autodenominou, com justiça, "capital mundial da pedra ametista".
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