Frustrados do mundo, existe um lugar para vocês: as Ilhas da Decepção
14º10' S, 141º13'O
Napuka
Tuamotu, Polinésia Francesa (coletividade ultramarina da França)
Atóis — essas ilhas distantes da costa formadas por um anel de corais e uma laguna no meio — podem ser uma beleza da natureza, mas são um desafio para navegantes, especialmente para aqueles de alguns séculos atrás.
O problema é a visualização. Ilhas montanhosas podem ser avistadas de longe em dias de mar calmo e tempo aberto. O Taiti é visível a mais de 160km. A Ilha do Havaí, a maior do arquipélago de mesmo nome, pode ser vista a mais de 330km, graças a seu ponto culminante, Mauna Kea e seus exuberantes 4.200m.
(Detalhe é que o topo da montanha é sempre a primeira parte que você vê. À medida que se aproxima, a ilha vai se descortinando de cima para baixo, uma prova cabal da curvatura terrestre. Se você topar com um terraplanista, sugira a ele pegar um barco e remar para tirar a prova.)
Já os atóis não têm montanha para avisar a um marinheiro de sua proximidade. Na falta de uma, procurava-se uma árvore alta. Um observador no cesto da gávea de um navio conseguiria avistar um coqueiro de 30m a cerca de 30km de distância, isso em condições bem favoráveis. À noite, muitos só descobriam o atol quando já arrebentavam o casco nos corais.
Alguns desses lugares fizeram fama tão ruim que acabaram gravados na cartografia. Caso de um grupo de ilhas do Pacífico que ganhou uma série de nomes pouco inspiradores dos navegadores europeus que por ali passaram.
Em 1520, durante a viagem de circunavegação do globo, o viajante veneziano Antonio Pigafetta, assistente do próprio Fernão de Magalhães, registrou em seu diário as Ilhas Desafortunadas. No século 17 os holandeses nomearam elas de Águas Más, entre outros apelidos. No século 18 era Arquipélago Perigoso. No 19, Arquipélago do Mar Mau. Haja fama ruim.
Antes disso, em 1765, um britânico foi igualmente mal-sucedido. John Byron (avô do poeta que seria conhecido como Lorde Byron) estava em missão para conquistar alguma ilha no Pacífico Sul para servir de posto de abastecimento aos navios ingleses.
Byron deu a volta no mundo em menos de dois anos, um recorde, e tomou as Malvinas para serem chamadas de Falkland (ou não). Mas nada de tomar aquelas ilhotas.
Ele sequer conseguiu descer lá. Não havia ponto seguro para ancorar, por causa do escudo coralíneo em volta da ilha. Para completar, os nativos os aguardavam ostentando lanças de 5m e fazendo sinais agressivos em meio a gritarias e danças.
O comandante recuou e tentou ancorar na ilha vizinha, mas de novo falhou. E, de novo, surgiram ameaças em forma de lanças e porretes. Os ingleses responderam e apelaram com uma bala de canhão.
Após 20 horas de frustração, Byron decidiu ir embora. Chamou o local de Ilhas da Decepção. Parece coisa de fã de Game of Thrones após o fim preguiçoso da série, mas foi um nome que pegou por algum tempo.
Hoje, elas não têm nem 300 habitantes somadas e são mais conhecidas pelos nomes que tinham desde antes da passagem dos frustrados europeus: Napuka e Tepoto. As duas fazem parte do arquipélago Tuamotu, um dos grupos de ilhas que formam a Polinésia Francesa e que tem paisagens assim:
Mas, se preferir, pode chamar de Ilhas da Decepção. E mandar aquele alguém não-tão-mais-especial-assim para lá.
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