A vila espanhola onde diabos de máscara pulam sobre bebês no Corpus Christi
42º21'N, 4º03'O
Castrillo de Murcia
Sasamón, Castela e Leão, Espanha
Corpus Christi é talvez o feriado católico mais difícil de se explicar. Não é sobre o menino Jesus. Não é exatamente sobre sua morte (embora celebre a ressurreição). Não envolve Maria nem nenhum santo. Trata-se de uma festa sobre a transubstanciação, ou seja, a presença real de Cristo na eucaristia, algo central na fé católica.
Localizá-lo no calendário também não é fácil. É a quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade, que acontece uma semana depois do domingo de Pentecostes. Pentecostes, por sua vez, é celebrado 50 dias depois da Páscoa, a grande data que define as outras festas móveis do catolicismo. A Páscoa ocorre no primeiro domingo após a primeira Lua Cheia do outono (no Hemisfério Sul). A partir daí você sabe quando será o Carnaval, Corpus Christi etc.
Pois é, uma complicação. Mas, para os desapegados de simbolismos religiosos, seguidores de outras fés e cidadãos pragmáticos em geral, a explicação que basta está no começo: "É a quinta-feira". Logo, feriadão. Pelo menos para os mais afortunados.
Junte um fim de semana prolongado, os belos dias de outono-quase-inverno e as ruas enfeitadas de cascalho, flores, serragem, borra de café, farinha, areia e tantos outros materiais, tradição que herdamos dos portugueses, e temos um dos feriados mais bonitos do ano. Cidades paulistas, mineiras, goianas, capixabas, fluminenses colorem as ruas em procissão.
E não só no Brasil. A festa de Corpus Christi, que surgiu na Bélgica, no século 13, ganha características locais e atrai turistas no Panamá, Peru, Espanha, Portugal, Itália e outros países de maioria católica.
CORPUS CHRISTI DIFERENTE
Algumas dessas tradições fogem totalmente do padrão. É o caso do Colacho, em Castrillo de Murcia, um vilarejo em Sasamón, na província de Burgos, Espanha. Tem cerca de 200 habitantes, e a soma dos povoados que compõem Sasamón mal passa de mil pessoas. Uma região linda e vazia, com ruínas romanas e construções medievais.
El Colacho também é antigo. Os registros mais velhos indicam que ele acontece desde pelo menos a década de 1620, todo domingo após Corpus Christi. O evento começa com diabos com máscaras vermelhas e amarelas, que percorrem as ruas gritando, xingando e empunhando chicotes de rabo de cavalo.
Então chegam os atabaleros, homens de preto determinados a expulsar o mal. Os diabos correm e então começa o Salto do Colacho, em que eles pulam sobre bebês que nasceram no último ano e que estão deitados em colchões bem no meio da rua.
Segundo a tradição, os diabos absorvem os pecados originais dos bebês. Se o batismo católico fosse um esporte olímpico, essa seria a versão X games.
Espectadores na calçada aproveitam para pedir proteção e saúde. Ao final, sob pétalas, depois daqueles instantes de respiração presa com adultos mascarados pairando no ar sobre bebês indefesos, eles voltam a seus pais. Ufa.
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