A usina que gera energia do lixo e ainda tem uma pista de esqui em cima
55º41'N, 12º37'L
Amager Bakke
Amager, Copenhague, Dinamarca
Usinas que transformam lixo em energia elétrica são dessas invenções, tal qual as vacinas, a comunicação via satélite e o alambique, que nos fazem voltar a ter fé na humanidade. A China está construindo uma, enorme, que fornecerá energia para 305 mil casas. O portentoso edifício cilíndrico terá dois terços do telhado cobertos de painéis fotovoltaicos.
Sim, essas usinas ainda poluem, porque o processo envolve a queima de resíduos. Mas vale a pena porque esse procedimento libera muito menos carbono e metano na atmosfera do que aterros sanitários, por exemplo. E é a única tecnologia que de fato reduz emissões de gases de efeito estufa enquanto produz energia.
A usina chinesa é projeto de uns escritórios de arquitetura dinamarqueses. Outra firma do país europeu, BIG, concebeu uma usina em Copenhague que é ainda mais impressionante. Além das pressupostas vantagens ambientais de uma obra do tipo, a Amager Bakke é uma central de esportes e entretenimento na capital. Uma montanha de alumínio na plana ilha de Amager, no sudeste da cidade.
Ao fundo, as turbinas eólicas do Øresund, estreito na fronteira com a Suécia que conecta o Mar Báltico com o Kattegat, um outro estreito (só que bem menos estreito) que faz a curva e desemboca no Mar do Norte. Compondo o cenário, chaminés de outras usinas de biomassa dessa zona industrial. No topo da CopenHill, como ela é chamada, um tipo de piso sintético feito para esquiar (!).
Não sei você, mas só me veio uma música à cabeça:
(o que me lembra outro post aqui do blog, sobre esta bizarra corrida inglesa)
Do alto de seus 85 m de altura, CopenHill tem outras amenidades. Quem não é do esqui pode simplesmente subir o prédio por uma trilha com pés-de-morango, usar os equipamentos de ginástica, paredes de escalada ou ainda as atividades no centro de recreação urbana e educação ambiental. No inverno, a pista verde fica naturalmente branca e repleta de esquiadores.
O complexo é materialização do conceito de "hedonismo sustentável", defendido pelo arquiteto Bjarke Ingels, o cabeça do BIG. É a evolução daquela ideia surrada de que não é porque algo é sustentável que precisa ser chato (o que conversa com outra, a que diz que não é porque um produto é feito de material reciclável que ele precisa ser sempre feio).
CopenHill é o cartão de visita de um ousado plano de Copenhague: tornar-se a primeira cidade neutra em carbono do mundo já em 2025.
A Dinamarca é formada por uma península e centenas de ilhas, muitas ligadas por pontes. É um país plano, as colinas mais altas não chegam a 180 m (mais baixos que alguns prédios de Balneário Camboriú). Logo, não é lá um país com tradição no esqui de montanha.
A ideia do complexo surgiu em 2002, quando Ingels propôs uma pista de esqui em cima da maior loja de departamentos da capital. Não foi para a frente, mas lançou a semente. Em 2011, o BIG ganhou um concurso internacional para projetar a usina nessa zona industrial de Copenhague, com o argumento de criar algo que seria um marco tanto na arquitetura quanto no manejo de rejeitos e na produção de energia.
A construção foi concebida para substituir uma antiga usina da área, mas com uma ousada missão. "A principal função da fachada é esconder o fato de que fábricas têm um sério problema de imagem. Queremos mais do que apenas criar uma bela roupagem em torno da fábrica. Queremos adicionar funcionalidade", descreveu o BIG à época.
Debaixo de toda essa diversão, entretenimento e blocos de 1,2 x 3,3 m de alumínio, as turbinas convertem 440 mil toneladas de lixo por ano em energia limpa. Maior prédio da Dinamarca e primeira pista de esqui do país, esse curioso ponto turístico é também fonte de eletricidade e aquecimento para 150 mil casas.
Hoje, CopenHill está fechada para o público, em respeito à quarentena decretada pelo governo em tempos de covid-19. Quando tudo isso passar, sua pista voltará a estar cheia. Seja verão, seja inverno.
Mais informações em Visit Copenhagen e Copenhill
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