A estátua do cachorro é só o começo: o Turcomenistão tem monumentos únicos
37º57'N, 58º20'L
Estátua do Alabai
Ashkhabad, Ashkhabad, Turcomenistão
Quando um dos ditadores mais pitorescos do planeta é um entusiasmado ~pai de pet~, pode apostar que o culto à personalidade se estenderá, a qualquer momento, a seus amigos peludos. Este mês, o Turcomenistão ganhou uma estátua em homenagem ao mui amado dogue de Gurbanguly Berdymukhamedov.
Quando Berdymukhamedov aparece no noticiário internacional, muitas vezes o assunto é sobre repressão, e sempre é alguma medida bizarra – ligada ou não à falta de liberdades em seu país. Como no começo da pandemia, quando ele proibiu o uso da palavra "coronavírus". Taoquei?
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A mais nova medida excêntrica é a escultura dourada de quase 6 metros em homenagem ao seu pastor-da-ásia-central. Como o nome diz, a raça é típica dos países da Ásia Central, como Cazaquistão ("very nice!"), Uzbequistão e o Turcomenistão, onde ela é mais conhecida como alabai.
A estátua foi inaugurada com toda a pompa disponível, em uma cerimônia com cantores, dançarinos e balões coloridos, em uma avenida na zona oeste da capital turcomena, Ashkhabat. O marco faz parte de um grande projeto urbanístico para a área, que inclui prédios residenciais de alto padrão e um novo shopping center, segundo a agência de notícias local.
O alabai, um símbolo de orgulho nacional, há muito faz parte da vida pública do homem que comanda o Turcomenistão desde o fim de 2006. No ano passado, ele lançou um livro sobre a raça que incluía um poema que ele teria escrito durante uma reunião de gabinete. Já presenteou Vladimir Putin com o filhote de alabai. Serdar Berdymukhamedov, filho e provável sucessor nesse regime assemelhado ao da Coreia do Norte, se ainda não é presidente da nação já é, ao menos, presidente da Associação Turcomena de Alabais.
Além disso, o governo anunciou que está se preparando para inscrever o cão, uma raça de pastoreio tradicional e de grande importância cultural no país, na lista de candidatos a patrimônio da humanidade da Unesco. Atualmente, o país detém três patrimônios culturais, testemunhos da história milenar da região: uma cidade do Império Aquemênida, ruínas do Império Parta e Merv, a mais antiga e bem preservada cidade-oásis da Rota da Seda. Um baita acervo.
UM PAÍS DE ESTÁTUAS
Mas não é só o alabai que merece tantas honrarias. Berdymukhamedov tem um trono com dois cavalos em seu gabinete. Em 2015, ele inaugurou uma estátua dourada de 21 m que o representa montando um cavalo. Em ambos os casos, é a mesma raça, akhal-teke, um símbolo nacional tão forte que está até no brasão de armas do Turcomenistão.
O culto à personalidade se estende ao antecessor de Berdymukhamedov, Saparmurat Niyazov. Há diversas estátuas em homenagem ao primeiro presidente do país, após a independência da União Soviética.
Em Ashkhabat, existe até um monumento que celebra um livro que Niyazov teria escrito, Ruhnama. Presentear alguém com uma cópia da obra era comum durante os 15 anos em que ele esteve no poder – e também depois disso.
O Monumento da Neutralidade é um "foguete" de 75 m com uma estátua de Niyazov no topo. Ele ficava na capital, mas em 2010 foi transferido para os subúrbios. A obra celebra a neutralidade do país em assuntos beligerantes (tipo a Suíça), algo reconhecido pela ONU desde 1995.
O Turcomenistão é também um desses países onde ainda é possível ver uma estátua de Lênin. Bem mais ligado a pautas atuais é o monumento dedicado à bicicleta, inaugurado em junho deste ano:
E ainda tem um monumento em forma de âncora e um outro dedicado aos esportes. Futebol, falcoaria e hipismo são as atividades mais populares do Turcomenistão, que tem até um estádio olímpico apesar de nunca ter sediado os Jogos.
Em um ano em que estátuas em tudo que é lugar estão sendo pichadas, contestadas ou derrubadas por suas ligações racistas e colonialistas, é curioso notar a profusão de monumentos mais "inocentes" erguidos por um regime ultrafechado e ditatorial. Nada garante que o alabai permanecerá de pé quando (ou se) a revolução chegar, afinal ele acaba sendo também um símbolo desse regime pós-soviético repressivo.
Mas, na fila da guilhotina dos bonecos de bronze, pedra ou ouro, quem está na frente: um vitorioso general que conquistou e massacrou territórios indígenas, um heroico almirante que lutou até morrer por um império que enriqueceu horrores com a escravidão… Ou o cachorro de um ditador?
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