Devido a aquecimento global, cidade mais ao norte do mundo está derretendo
78º13'N, 15º37'L
Longyearbyen
Svalbard (território da Noruega)
Onde o aquecimento global ataca com mais força, nem os mortos descansam em paz. Acontece quando o pergelissolo, ou permafrost, o solo permanentemente congelado, mostra que nem ele é tão permanente assim.
À medida que rochas e terra descongelam, tudo que está debaixo da superfície tende a subir. Foi o que rolou com as sepulturas de Longyearbyen, cidade de pouco mais de 2 mil habitantes e capital de Svalbard. Segundo moradores locais ouvidos pela agência Reuters, já aconteceu de caixões brotarem do chão, alarmando todos os vivos. O problema ocorre também no Alasca, onde já tem gente fazendo tumbas suspensas enquanto cemitérios viram pântanos.
Veja também
- Aquecimento global criou um cemitério de estações de esqui nos Alpes
- Groenlândia tem bosque "boi de piranha" na luta contra aquecimento global
- Pouco vento, muita luz, solo seco: lugar mais quente do mundo chega a 70°C
A instabilidade de um chão que descongela provoca deslizamentos de terra e avalanches, indestrutíveis para casinhas que foram construídas sem fundação. Incidentes do tipo são cada vez mais comuns, algumas vezes fatais.
Longyearbyen é a cidade com mais de mil habitantes mais setentrional do mundo. Um lugarzinho com quatro meses de sol da meia-noite e três meses de noite polar, com um solo que derrete, provoca avalanches e cospe cadáveres.
O grande causador desse cenário de conto de terror é um monstro muitas vezes invisível, cuja existência já foi provada, comprovada, testamentada, juramentada e escancarada na cara de todos, mas que encontra resistência em seitas negacionistas. Em Longyearbyen, ninguém duvida da realidade do aquecimento global.
Desde 1970, a temperatura média anual subiu 4ºC em Svalbard. Já a temperatura média do inverno deu um salto de 7ºC, de acordo com um estudo publicado pelo Centro de Serviços Climáticos da Noruega este ano. Até o fim do século, a temperatura média do arquipélago pode subir 10ºC. É só lembrar que a grande meta do Acordo de Paris é limitar o aumento da média global em 1,5ºC para ter noção do que se passa em Svalbard.
A extensão do gelo do Oceano Ártico cai 12% a cada década desde 1979. Essa redução é mais evidente na área do Mar de Barents, onde fica Svalbard.
Com isso, Longyearbyen, que detém desde o século 20 o título de cidade mais setentrional do mundo, é, no século 21, a cidade que está esquentando mais rápido.
A localidade deve seu nome a John Munroe Longyear, industrial americano que em 1906 investiu em minas de carvão na região. O lugar se desenvolveu o suficiente para ser a capital do arquipélago, que em 1920 foi reconhecido como um território norueguês.
Durante a Segunda Guerra, Svalbard permaneceu de lado um bom tempo, apesar de a Noruega ter sido invadida e dominada pelos nazistas. Até que em 1943 navios alemães bombardearam as ilhas e destruíram quase todos os prédios de Longyearbyen.
Na Guerra Fria, os soviéticos mantiveram forte presença em Svalbard, sobretudo com minas de carvão. Foi só a partir da década de 1990 que o território ganhou a atual faceta, focada em ciência e turismo. Svalbard tem universidade, centros de pesquisa e, mais famoso, o Banco Internacional de Sementes, ousado empreendimento que pretende manter a diversidade biológica do planeta.
Mas o turismo não é novidade no arquipélago. Era relativamente comum há pouco mais de um século. O próprio Longyear visitou as ilhas pela primeira vez como turista.
Cabe a pergunta. Haverá turismo daqui a 100 anos em Svalbard?
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.