Paris já teve parque de diversão com splash no rio Sena e baile gay
48º51'N, 2º18'L
Magic City (atual rua Cognacq-Jay)
7º arrondissement, Paris, França
Das coisas mais legais de se descobrir ao andar em uma rua ou praça antiga são as outras vidas que esses lugares tiveram. Isso vale para o Largo da Batata, que há 470 anos era a aldeia Nossa Senhora da Conceição dos Pinheiros, há 100 era um mercado com um vistoso trânsito de bondes e hoje, com cervejas de R$ 5 a R$ 80, é uma exposição maluca e democrática dos seres humanos (e da desigualdade) de São Paulo.
Em Paris, até os cantos menos turísticos e vistoso (em níveis parisienses) escondem passados surpreendentes. Um trecho entre o Quai D'Orsay e a Rue de L'Universitè, esparramando-se até a Pont de l'Alma, foi o lar de um parque que marcou época na cidade.
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Em 1900, Paris ganhou o Magic City, seu primeiro parque de diversões. Com shows, bailes, ringues de patinação, curiosidades e "performances de nativos", como as bizarras apresentações de pessoas de etnias diferentes eram chamadas, figuravam entre as atrações desse parque, que tinha como foco o público adulto.
Os outros brinquedos tinham o charme que podemos imaginar de um parque da Belle Époque parisiense. Gôndolas, trenzinhos cênicos, roletas humanas, splash…
Magic City foi além do puro entretenimento. Entre maio e julho de 1924, quando Paris sediou a segunda de suas três Olimpíadas de Verão (a terceira está por vir, justo no centenário, em 2024), o parque abrigou uma exposição internacional dos esportes.
O político Joseph Caillaux fez, em 1925, um inflamado discurso acusando o ex-presidente Raymond Poincaré de não ter impedido a Primeira Guerra. Até Gandhi passou por ali, em 1931, quando lutava pela independência da Índia.
Mas foi durante os Loucos Anos 20 que Magic City tornou-se lendário, graças, especialmente, a seus bailes. "O creme da Paris 'invertida' [termo antigo e incorreto para 'gay'] se encontrava lá, sem distinção de classe, raça ou idade", escreveu o historiador David Higgs, que era especialista na história e cultura homossexuais. "Cada tipo aparecia, marinheiros, garotinhos, rainhas velhas, antiquários famosos, jovens açougueiros, cabeleireiros e ascensoristas, famosos estilistas e drag queens".
O fotógrafo francês nascido na Hungria Brassaï eternizou os bailes em fotos de 1931. Três anos depois, Magic City encerrou as atividades. Os bailes duraram mais alguns anos, mas, agora, após críticas de parte da sociedade, com censura. "Homens travestidos de mulheres não serão mais admitidos".
Na década seguinte, o parque morreu de vez. Uma nova rua foi pavimentada sobre parte da antiga área de Magic City, os nazistas destruíram o que sobrou e ergueram em cima um estúdio de cinema. Com a liberação da França, em 1944, o estúdio foi assimilado pela RTF, a empresa pública de audiovisual francesa.
Hoje, a área homenageia aqueles que lutaram contra o nazismo na cidade: praça da Resistência. Um nome justo, porque acaba lembrando, mesmo que de tabela, as almas livres que circulavam nos bailes.
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